Josmar Jozino

Josmar Jozino

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

Facção do terror: os atos terroristas do PCC desde o início dos anos 2000

No início dos anos 2000, uma mensagem pichada por presos do PCC (Primeiro Comando da Capital) com spray de tinta preta em uma parede no Pavilhão 9 da Casa de Detenção, no Carandiru, zona norte paulistana, deixou as autoridades de "cabelo em pé".

A primeira frase da pichação dizia: "Só pelo sofrimento que somos obrigados a passar nesse lugar constituído de ódio, raiva e saudades é onde temos forças para nos tornar mais terroristas do que já somos". A Casa de detenção foi palco da matança de 111 presos pela PM em outubro de 1992.

No segundo parágrafo havia outra advertência: "E com a união de nossos irmãos espalhados pelo sistema e apoiados pelos que estão do lado de fora faremos o nº 1 da mídia terrorista brasileira". E concluía: "Não somos os melhores nem os piores, pois somos isso que a própria sociedade criou".

Naquela mesma década, o PCC passou realmente a impor o terror. O prédio da SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária) foi o primeiro alvo escolhido pela facção. Na tarde de 13 de fevereiro de 2002, uma granada GL 305 foi lançada de dentro de um Santana na porta do edifício.

A explosão do artefato feriu levemente quatro pessoas. Os autores do atentado deixaram no local uma faixa de pano com a sigla PCC, comunicando que se o governo não parasse com os maus-tratos à população carcerária, os ataques teriam continuidade.

Dois dias depois, em 15 de fevereiro, outra granada GL 305 foi jogada na porta do prédio da SAP. Ninguém se feriu. A terceira explosão foi em 18 de fevereiro no Iprem (Instituto de Previdência Municipal), na zona Norte, a 200 metros do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais).

O PCC apresentou suas reivindicações: O fim do RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), um sistema de castigo que deixa o preso trancado 22 horas todos os dias em cela individual, e o retorno para São Paulo dos chefes da facção que tinham sido transferidos para outros estados.

Os ataques continuaram em março de 2002. No dia 16, os alvos foram fóruns, prédios públicos e postos policiais. Em Sumaré, na região de Campinas, o 3º DP foi invadido. O escrivão e o investigador acabaram metralhados. O carcereiro baleado sobrevive. Uma bomba ainda explodiu no corredor.

Sequestro de jornalistas

No ano seguinte, em 14 de março de 2003, o PCC matou a tiros o juiz corregedor Antônio José Machado Dias, o Machadinho. O magistrado era o responsável pelos processos de execução penal dos presos de várias penitenciárias da região de Presidente Prudente, a maioria ligada ao PCC.

Continua após a publicidade

Em 23 de outubro de 2005, a vítima de atentado foi José Ismael Pedrosa, 70. Era domingo, dia de votação do referendo sobre a comercialização de armas e munição no Brasil. Pedrosa era o diretor-geral da Casa de Detenção na época do massacre do Carandiru. E também dirigiu a Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, onde a facção foi criada em 31 de agosto de 1993. O PCC tinha ódio mortal dele.

Em maio de 2006, o PCC paralisou o estado de São Paulo. A organização matou 59 agentes de segurança nas ruas e se rebelou em 74 presídios paulistas. A barbárie foi em protesto contra o isolamento de 765 detentos na Penitenciária de Presidente Venceslau (SP), na véspera do Dia das Mães.

Em resposta à ação do PCC, as forças policiais mataram 505 pessoas a tiros no estado e ninguém foi responsabilizado pelas mortes. Segundo o MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo), depois disso a facção começou a se estruturar como organização mafiosa.

Uma das ações mais ousadas do Primeiro Comando da Capital aconteceu em 13 de agosto de 2006. A facção sequestrou um jornalista e um repórter cinematográfico da Rede Globo. Em troca da liberdade dos profissionais, a emissora teve de exibir um vídeo com reivindicações do grupo.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.