Mauro Cid bate em Bolsonaro, Braga Netto e Garnier, mas com carinho
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O tenente-coronel Mauro Cid, ex-faz-tudo da Presidência da República, confirmou, hoje, que o ex-chefe, Jair Bolsonaro, o ex-candidato a vice, general Braga Netto, e o ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, participaram do planejamento de um golpe de Estado. Tentou dar uma amenizada, recheando seu depoimento com não-me-lembros e evitando conectar as informações que prestou à ideia de que o grupo do qual fazia parte estava conspirando contra a democracia. Mas confirmou o principal, imputando os três ex.
Cid reafirmou que Bolsonaro editou o texto de uma minuta de decreto de golpe que mandaria para o xilindró uma série de autoridades e melaria as eleições de 2022. Segundo o militar, o então presidente removeu a prisão de todos, menos a de Alexandre de Moraes, então chefe do Tribunal Superior Eleitoral. O que levou o ministro a fazer uma piadinha, de que "os outros receberam um habeas corpus".
Cid também confirmou que recebeu de Braga Netto uma caixa de vinho cheia de dinheiro vivo para que fosse entregue ao tenente-coronel Rafael de Oliveira. O tenente-coronel diz que pensou que os recursos iriam para os acampamentos golpistas. Mas Oliveira, que é um kid preto (forças especiais do Exército), seria um dos executores da Operação Copa 2022, plano para matar Moraes, Lula e Alckmin, segundo a Polícia Federal. Detalhes do plano foram, posteriormente, descobertos nos celulares dos envolvidos.
Cid ainda apontou que o almirante Garnier fazia parte do grupo dos radicais que defendiam um golpe de Estado e colocou suas tropas à disposição de Bolsonaro. Isso, inclusive, teria deixado "muito chateado" o general Freire Gomes, de acordo com o próprio Mauro Cid.
Lembrando que o brigadeiro Baptista Júnior, comandante da Aeronáutica, confirmou ao STF que foi apresentada a ele e a seus colegas do Exército e da Marinha a proposta do decreto que acabaria por validar um golpe de Estado e beneficiar Jair Bolsonaro, que havia sido derrotado nas urnas por Lula.
Foi mais direto que o depoimento do general Freire Gomes, que deu uma passada de pano corporativista no colega da Marinha, mas ambos apontaram a mesma coisa: que o presidente buscou o envolvimento das Forças Armadas para baixar estado de sítio, prender autoridades e melar as eleições. Ponto.
Cid deu ainda uma aliviada para nomes como o do ex-ministro da Justiça Anderson Torres e do ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno.
Aliás, bateu continência aos superiores hierárquicos antes de o depoimento começar, demonstrando deferência à instituição ao qual deseja continuar pertencendo após tudo isso passar (se ele for condenado a menos de dois anos, seu desejo pode se realizar). Cumprimentou o próprio Bolsonaro, claramente constrangido. Ninguém nega que ele gosta de Jair, mas gosta mais de si mesmo.
Não importa que a defesa do ex-presidente tenha tirado dele a informação de que Jair sempre dizia que agiria dentro das quatro linhas da Constituição — isso vale tanto quando um glutão que diz que está de dieta. Ou que tenha reproduzido áudio mostrando que, no final de 2022, o então presidente estava desmotivado sobre a possibilidade de um golpe. Como é amplamente conhecido, uma ação não foi posta em prática antes da entrega de cargo porque a cúpula das Forças Armadas se negou a pular no colo de Jair.